22.7.06

Estilo PCC chega a Feira

Como é notório a qualquer um que não esteja no mundo da lua, o PCC, organização criminosa paulista, adotou a tática de aterrorizar a população, para mostrar que ninguém pode mexer com eles, que ninguém pode contrariá-los. Os ataques começaram direcionados exclusivamente a policiais ou no máximo bombeiros, em maio. Agora em julho, voltaram-se a princípio contra agentes penitenciários, mas acabaram atingindo diversos tipos de estabelecimentos comerciais, vigilantes civis, funcionários aposentados da segurança pública, transporte coletivo e enfim, qualquer um que lhes atravessasse o caminho, incluindo uma mãe e seu bebê.
A tática da intimidação contra quem contraria interesses criminosos não é novidade nenhuma. A diferença do que aconteceu em São Paulo é que ela foi transformada em banalidade e aí é que mora o perigo.
Não é problema dos paulistas. É problema de todos nós, porque o exemplo se espalha e se espalha depressa. Aqui em Feira, acordamos ontem sabendo que um morador de um bairro central (Brasília), teve o carro atingido na garagem de casa, por pedradas que danificaram a lataria e quebraram vidros. E foi atingido aparentemente pelo acaso de ser vizinho de uma pessoa que atua na fiscalização a veículos que fazem transporte irregular na cidade. Pessoa que nem sequer é fiscal, mas dirige carro no qual o fiscal se locomove. E que não estava com o carro na garagem porque o carro está na oficina, vítima de uma ação idêntica, ocorrida também na garagem de casa. O carro do motorista do fiscal não estava, então sobrou para o carro do vizinho.
Não é caso para deixar para lá, para ser esquecido em meio a incontáveis ocorrências policiais. É um precedente sério, que precisa ser investigado pela polícia e punido pela justiça.
Se de fato por trás desta ação estão praticantes de transporte clandestino, é um péssimo sinal. Sinal de não temem nem a prefeitura, nem a polícia militar, nem o Ministério Público, que ordenou há poucos dias um combate à clandestinidade. E, por conseguinte, não temem também a Justiça, onde inevitavelmente irão desaguar eventuais processos.
Tanto mais séria é a situação por existirem policiais atuando nesta atividade clandestina, como já denunciado publicamente por representantes do setor (e comentado na surdina por motoristas do transporte “alternativo”). É perversa a condição de um PM, que tem um trabalho árduo e um salário baixo, sendo por lei proibido de exercer outras funções para complementar renda. Por isso entende-se e tolera-se o exercício de atividades diversas pelos policiais. Mas uma clandestina é impossível aceitar.
Uma impressão de desordem na segurança pública já foi inevitavelmente transmitida pelos acontecimentos dos últimos dias, que tiveram um PM espancado por colegas dentro do batalhão, atentado a bala contra a casa de outro, acusações, ofensas e xingamentos em entrevistas, dossiês de parte a parte e chefia de Polícia Civil recorrendo ao Ministério Público para providências no Batalhão da PM. Tudo isso não ocorreu de uma hora para outra, sem motivo. É o transbordamento de uma fervura que vem de longe e já não podia mais ficar encoberta.
Neste clima, que no mínimo se pode chamar de bagunça, corremos o risco da marginalidade se sentir mais à vontade para agir do que já está. O apedrejamento do carro do vizinho do motorista do fiscal é um sinal disso.

Publicado na Tribuna Feirense em 22 de julho de 2006

17.7.06

Clailton com Pimenta

O Judiciário é uma das mais importantes instituições humanas. É indispensável para a existência da sociedade que em qualquer conflito de interesses, exista uma maneira harmoniosa de definir uma questão, cada lado apresentando seus argumentos e acatando a decisão que vier do juiz.
No entanto, entre nós, a chamada Justiça está deixando de ser o amparo dos verdadeiramente injustiçados e o terror dos malfeitores. Tornou-se antes, o álibi dos infratores.
Ainda se encontra, entre a gente mais simples, aqueles que tremem só de ouvir falar em Justiça. Mas os que sabem manejar as armas e armadilhas dos processos, têm tanto medo desta Justiça quanto os caloteiros profissionais têm do SPC. Para estes, a Justiça, ao invés de veneno, é antídoto, pois ao ser pego com a mão na massa, aceitam pacientemente o processo, sabendo que ao final dele, não haverá condenação, ainda que haja provas. E sem condenação, o réu ressurgirá vingado, alardeando: “nada ficou provado e fui inocentado”.
Assim fez o milionário político Orestes Quércia, agora todo assanhado para ser candidato em São Paulo, disputado pelo PT e pelo PSDB, os partidos que antes o carimbaram como corrupto. Assim faz Paulo Maluf, ainda mais desinformado e esquecido do que Lula, pois nem de suas contas bancárias milionárias no exterior, ele sabe ou se lembra.
Em Feira de Santana, não estamos mais sem nosso próprio exemplo de inocência afiançada pela Justiça. Depois de anos, pilhas de processos, documentos, depoimentos, reportagens esclarecedoras estarrecedoras e falsas ameaças de adversários políticos, o ex-prefeito Clailton Mascarenhas foi considerado um injustiçado pelo deputado estadual Tarcízio Pimenta, que com total despudor, anunciou o apoio do investigado à sua candidatura para reeleição na Assembléia Legislativa.
Baseando-se no fato de que na prática nada aconteceu com Clailton em termos de punição, Tarcízio sentiu-se à vontade para considerá-lo vítima e não criminoso.
Faz sentido. Como não ocorre punição, quem vai dizer que o réu é culpado? Na época dos fatos, as provas podem ser fartas e consistentes, de tal maneira que todos se convencem do mal feito e não há muito como negar. Porém, passado o tempo, quem vai se lembrar de tudo que passou? Além do mais, há muitos que nem eram eleitores quando tudo aconteceu. Teria que valer a sentença proferida. Sem sentença, nada feito.
Sorte de Clailton que escapou. Sorte de Tarcízio que pode se aliar a ele sem ser muito recriminado. Provavelmente nem seu tutor eleitoral, o senador ACM, o recrimina, apesar de, nas eleições de 2000, no auge da desmoralização de Clailton, ter prometido, como é de seu feitio, uma faxina moral em Feira de Santana, após a ascensão do PFL ao poder.

Publicado na Tribuna Feirense em 15/07/06

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